Navio
Está vendo aquele navio ali? - indicou. - É lindo... mas o que tem ele?
- Venha comigo - disse.
Caminhamos em silêncio até nos aproximarmos da plataforma. Havia um intenso movimento de pessoas ali. Muitos membros da tripulação organizavam a subida dos passageiros pela rampa de embarque. O navio parecia pronto para partir.
De repente, notei um oficial vestido num imponente uniforme branco caminhando em nossa direção. Ele vinha acompanhado por um marinheiro que tinha o brasão do navio estampado na camisa. Eles aproximaram-se, parando à nossa frente.
- Olá! É um enorme prazer revê-la - disse o oficial, beijando a mão da bruxa com grande deferência. - Já faz bastante tempo desde nosso último encontro.
- Olá, capitão - respondeu a bruxa.
O capitão fez sinal ao marinheiro para pegar a sacola que ela carregava.
O rapaz adiantou-se como se tivesse treinado muitas vezes para fazer aquilo.
Fiquei boquiaberto, sem entender o que estava acontecendo.
- Este é o amigo que me trouxe - disse a bruxa, apresentando-me ao capitão.
- Muito prazer - cumprimentou-me.
- O prazer é todo meu - respondi, ainda em estado de choque.
O capitão voltou-se para a bruxa.
- Sua cabina está pronta. Reservei a melhor da primeira classe. Espero que seja do seu agrado... Também sentir-me-ei muito honrado em tê-la em minha mesa para o jantar desta noite - disse.
- Você sabe muito bem que o luxo da primeira classe não me seduz, mas aceitarei sua oferta por educação - disse, jocosamente.
O capitão riu da brincadeira. Pareciam ser amigos de longa data.
- Quanto ao jantar de hoje - prosseguiu a bruxa -, terei muito prazer em desfrutar de sua companhia.
Em seguida, virou-se para mim.
- Preciso entregar-lhe algo - disse.
Abriu a mão, entregando-me um objeto amarrado a um fino cordão.
Peguei o presente. Era uma pequena cópia em metal do desenho do quadrado e suas diagonais.
- Isto é para lembrá-lo da importância de ver o mundo por diferentes perspectivas e também da nossa viagem.
Senti-me como se tudo aquilo não estivesse acontecendo.
- Obrigado. Jamais me esquecerei de você. Obrigado... Não tenho nada para retribuir seu presente - murmurei com tristeza.
- Comece a viver a vida como ela merece... E escreva o livro - recomendou.
- Farei isso - balbuciei.
O capitão aguardava impassível.
- Agora preciso ir - disse a bruxa. - Vou à Europa. Tenho algumas coisas a fazer por lá. Dê-me um beijo e prometa que irá cuidar-se bem.
- Prometo, se você prometer o mesmo.
- Combinado.
Trocamos um abraço apertado e beijei-a carinhosamente no rosto.
- Vou encontrá-la de novo? - perguntei.
- Nossos destinos estão ligados para sempre. Não há mais separação.
- Fico feliz em saber.
Virou-se para o capitão.
- Podemos ir?
- Quando quiser - ele respondeu.
- Boa viagem - desejei.
- Para você também.
- Mas eu não estou indo viajar - retruquei.
- É claro que está. Ou, depois de tudo, você pretende continuar descrevendo mapas - riu.
- Tem razão. Obrigado.
- Adeus.
- Adeus.
Ela e o capitão embarcaram conversando animadamente como velhos amigos que não se viam fazia muito tempo.
Não me lembro quanto tempo fiquei ali parado, sem saber o que fazer. Lembro-me apenas dos rebocadores afastando o navio e o sol começando a se pôr no horizonte. Neste momento, abri minha mão e lá estava meu presente.
Um comentário:
Oi Luciana,parabéns pelo seu blog, já acompanho a bastante tempo! tudo d bom pra vc.
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